segunda-feira, agosto 5

Falta um pedaço

No dia em que acabei de ler o Orgulho e Preconceito, da Jane Austen, não aguentei (óbvio) e tive que ir ver o filme. Obra cinematográfica lançada em 2005, repleta de gargalhadas e covinhas, proporcionadas pela actriz Keira Knightley - escusado será dizer que entretanto descobri que, uma década antes, já tinha sido feito um filme, supostamente melhor, mas os actores em nada se comparam à imagem que criei na minha mente, ao ler o livro, portanto...fiquei-me pela versão de 2005 (cada um com as suas manias, não é?) -, que foi completamente ao encontro da essência da personagem criada pela excelentíssima autora da obra em questão.

Se gostei do filme? Sim e não. Sim, porque é fiel à obra original e a escolha dos actores é, deveras, feliz. Sim, porque a própria história e desencadeamento dos acontecimentos é interessante e, se gostei do livro, inevitavelmente, iria gostar do filme, nesse aspecto. Não, porque, como em qualquer filme feito com base numa obra literária, falta um pedaço

Talvez não me encontre na posição mais imparcial para avaliar o filme nesse sentido. Nunca me conseguiria distanciar do facto de já ter lido o livro, principalmente quando tinha terminado a obra apenas horas antes. Mas o facto é que fiquei com a impressão de que, mesmo para quem nunca tenha lido Orgulho e Preconceito, ao ver o filme, é-nos transmitida a sensação de que a história se desenrola a um ritmo alucinante. Que não existiram nem tempo nem interacção suficientes para criar qualquer tipo de afinidade entre as várias personagens. Nem mesmo para desenvolver as mesmas. Há situações que perdem todo o sentido devido à sua descontextualização, diálogos inapropriados que chegam a arriscar o absurdo. Clichés completamente desnecessários e inexistentes na obra original que, ao invés de enriquecerem o filme, apenas o tornam mais banal. Outro ponto negativo é o pouco ênfase existentes nos principais temas da história. Exacto. O orgulho e o preconceito, obviamente, o que é notado logo à partida, com a frase presente no cartaz do filme "Sometimes the last person on earth you want to be with is the one person you can't be without.", que, na minha opinião, não representa, de modo algum, aquilo que a autora tenciona transmitir ao longo do livro.

Por outro lado tenho que ser justa e admitir que muitas das alterações feitas à história são extremamente convenientes, pois não nos podemos esquecer que contar uma história com base na imagem e no som traz possibilidades que devem ser exploradas. E dou um exemplo: muitos diálogos existentes em cartas, no livro, são passados para conversas tidas pessoalmente. Ora, tal alteração é justificada, uma vez que não faria qualquer sentido termos infinitas referências a cartas ao longo do filme, o que acontece no livro, numa época em que a escrita surgia como principal meio de comunicação entre as pessoas.

E claro que acabei por divagar. Pride and Prejudice não se tornou num dos meus filmes favoritos, mas sim dos que menos me desapontou no que toca a obras cinematográficas baseadas em livros. Extremamente fiel à história, às personagens e à própria linguagem, não apresenta qualquer aspecto que choque ou indigne o leitor. Portanto, no geral, a minha opinião mantém-se positiva.

Apenas...falta um pedaço.